Festival de Verão 2006

Neste ano, mais do que nunca, a Globo tomou conta do evento e o transformou em uma festa em que as pessoas pagam caro (ingressos entre 24 e 90 reais) para fazer figuração em um espetáculo que celebra artistas, e não a música, e cada vez mais existe única e exclusivamente para gerar números grandiosos e conteúdo de “entretenimento” para as emissoras de televisão associadas.
Não que algum dia a programação do festival tenha celebrado a música essencialmente, ou que a qualidade artística das atrações seja o critério básico para alguma coisa ali, apesar de devermos registrar alguns acertos na programação do palco alternativo nos dois anos anteriores (se apresentaram Cascadura, Nancyta, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Honkers, Gram, Matanza, Ludov, Black Alien, Dead Fish, etc), e algumas boas bandas no palco principal (Ira!, Los Hermanos, Pitty, Marcelo D2, Sepultura, etc).
É que este ano – assim me pareceu - a espetacularização do festival de verão foi potencializada de tal forma que o evento pareceu acontecer somente porque a Rede Globo estava lá. Tipo Criança Esperança, Show da Virada, essas coisas que parecem pensadas mais para agradar e convencer quem está em casa assistindo, do que o público que paga ingresso caro, pega 2 horas e meia de engarrafamento, paga entre 7 e 20 reais para estacionar, passa um aperto do caralho se quiser ver as bandas de perto, e ainda corre o risco de ter os pertences roubados.
Pois bem, se não fosse pelo trabalho eu não pisaria naquele Parque de Exposições nenhum dia, porque a grade de programação deste ano foi, provavelmente, a pior entre todas as edições (pelo menos das que eu lembro). Mas sim, eu fui todos os dias, mas nem me pergunte muito sobre os shows, porque me dei ao trabalho de sair do backstage e ir assistir apenas os shows dos Los Hermanos e dos Pittys.
Adoro LH, mas tive restrições ao disco 4 por ter achado o pouco que ouvi um tanto chato, o que me fez nem ouvir tudo. Mas show em festival, coisa e tal, os caras não são burros e não basearam totalmente o set no disco novo. Melhor, porque o show foi ótimo, com muito mais punch e bem menos melancólico do que outros que tinha visto na época do Ventura.
“Escolhemos músicas mais animadas, porque o set era reduzido por causa do tempo de show de uma hora”, me disse Rodrigo Amarante. Quem Sabe, Cara Estranho, A Flor, Último Romance, Além do Que Se Vê e O Vento, é claro – todos os hits estavam lá, e o público fanático também, corroborando a característica messiânica que a banda acabou assumindo, mesmo fazendo todo esforço para negar veementemente.
Na sexta-feira Pitty tocou cedinho, foi a segunda atração do palco principal. Podem dizer o que quiserem, o fato é que ela é a popstar nacional do momento. As crianças migraram de Sandy para Pitty – sintomático. Um bando de adolescentes histéricas (a maior parte meninas) sabia as letras de todas as músicas de trás para frente, inclusive das do segundo disco. Bom show, com direito a cover do Mars Volta (The Widow) no final. Mas o melhor de tudo, obviamente, foi a festinha no camarim-boate e o encontro de vários amigos (Xanxa, Spencer, Álvaro Tattoo, e mais um monte de gente boa – era tanta que certamente não vou lembrar de todo mundo agora).
No mais, pop rock de cú é rola, o Capital Inicial só faltou mandar sair do chão, Jota Quest continua um pastiche, Daniela Mercury continua pretensiosa, Titãs e Asa de Águia constrangedores, Roupa Nova fazendo covers do Linkin Park, Avril Lavigne e Outkast, ZZZZZzzzzzZZZZZZzzzzzz, CPM 22 continua tocando a mesma música o show inteiro, aquela alegria exagerada de Ivete Sangalo continua me assustando, a minha opinião sobre os Paralamas do Sucesso é politicamente incorreta demais para ficar registrada em algum lugar e infelizmente eu não consegui nem cruzar com Tati Quebra Barraco para ao menos ver a figura. Meu trabalho já tinha acabado e ficar esperando não valia o esforço.

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