
Então, desde o ano passado eu prometo uma resenha do Aloha From Hawaii, DVD duplo de Elvis que é o registro, com direito a ensaios, pós produção, a chegada de Elvis na ilha sem cortes e mais um monte de extras, do show realizado em 1973 no Havaí, que foi o primeiro evento transmitido via satélite pela TV americana (NBC), para vários países do mundo.
Aloha From Hawaii é um acontecimento, um marco, e acima de tudo uma prova de que não se produzem mais superstars como antigamente. Totalmente diferente da forma efêmera com que os artistas são hypados hoje em dia, Elvis é uma estrela cujo prestígio se justifica por vários motivos. Mitológico, charmoso, “ele é o Leonardo da América”, diria um grande amigo, também jornalista, quando eu, no auge da minha empolgação com o meu DVD novo, falei sobre com eu estava encantada como carisma daquela figura que imobilizava multidões em um tempo longínquo, em que as pessoas e as circunstâncias eram muito menos traiçoeiras.
O fato é que o style de Elvis ultrapassou a barreira do brega e acabou se firmando como algo cult, que inclusive ninguém nunca repetiu com tamanha maestria.
O DVD começa com a recepção dos nativos num aeroporto, o rei chegando de helicóptero com um traje de ir passar o inverno em Praga debaixo de um sol escaldante, enquanto dançarinas de ula-ula sumariamente vestidas faziam Elvis passar bem. A versão dessa chegada que consta do DVD é sem cortes e, embora interessante, é um tanto cansativa. São uns 18 minutos de Elvis chegando, saudando uma galera, beijando tiazinhas, apertando a mão de marmanjos e todos os demais desocupados que se dispuseram a tomar todo aquele sol para ir até o aeroporto só para ver o rei de perto durante uns 3 minutinhos.
O show é um mega concerto, com direito a muito brilho, glitter, um Honolulu International Center Arena entupido e abertura com a trilha de 2001, em um clima totalmente épico, grandioso, seguida de hits como Burning Love, covers de Something e My Way. Elvis distila sempre um sorrisinho de canto de boca, bem irônico, deixando clara a certeza de que tem a platéia na mão. O figurino é exagerado, kitch, com anéis enormes, e aquela calça boca de sino moldando uma figura hipnótica que parou um país durante um dia para acompanhar o show.
O áudio e a imagem são excelentes, embora o cenário, se avaliado com um olhar atual, pareça over. Condiz com a proposta do show, sem dúvida.
Elvis chora em I’m So Lonesome I Could Cry, tira os colares e o cachecol, fica com o peito de fora, para a euforia do público, chora novamente em What Now My Love, em um dos momentos altos do show. Não por acaso, certamente... Afinal, foi justamente em 73 que Elvis e Priscila se separaram e, reza a lenda, foi depois disso que ele começou a ter problemas de saúde e a engordar vertiginosamente, além de ter sido internado várias vezes.
Num dos únicos rompantes de humanidade, Elvis esquece as letras das músicas, o que é sempre recebido com gritos histéricos. Na seqüência de hits, rola um rockabilly descarado em músicas como Big Hunk O’Love, Johnny B. Goode, Whole Lotta Shake Going On, alternado com momentos de total instrospecção, e épicos a exemplo de What Now My Love, encerrando com a linda e chorável Can’t Help Falling in Love.
Ao fim, no momento mais americanófilo possível, Elvis se ajoelha e abre uma capa com a águia símbolo dos Estados Unidos e, mais uma vez, o público ensandecido louva aquele que, por algumas horas, played God.

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