
Quem tem um mínimo de amor à cultura pop, mesmo que não ame a banda, tem obrigação de pelo menos passar o olho no DVD The Best of R.E.M – In View – 1988-2003, recentemente lançado pela Warner. Se puder (e/ou quiser) comprar, ótimo. Você vai estar levando para casa uma coletânea com pequenas pérolas assinadas por gente do quilate de Spike Jonze, Michael Moore e mais uma pá de diversos diretores igualmente talentosos. Com uma preocupação equiparável à que dispendem no fazer da própria música, o R.E.M vem nos brindando, ao longo desses 15 anos, com videoclipes muito bem cuidados, tocantes, poéticos, esteticamente impecáveis, que foram peneirados e reunidos nessa compilação.
Da inédita faixa de abertura, “Bad Day”, até os vídeos raros que compõem os “Extra” do DVD, o vocalista Michael Stipe se mostra um ator talentoso. No próprio “Bad Day”, ele encarna um apresentador de um noticiário à la CNN que recita a letra da música com tamanha classe e ironia por trás da bancada, que mal parece estar cantando. E o que dizer do clima sombrio, meio sinistro, de “Nightswimming”, talvez o mais obscuro clipe da banda, e com certeza o que, de todos, foi o menos exibido? Que tal o clipe de “Imitation of Life”, em que o espectador mais cuidadoso pode perceber que nada acontece por acaso naquela cena tão cheia de coisas e aparentemente poluída, gravada num take de uns 20 segundos em um cenário enorme?
A cada clipe, a delicadeza e a acuidade vão aumentando, e a banda mostra uma constante preocupação com a cara que dá à sua música. “Electrolite” mostra um mundo de cabeça para baixo, “Stand” remete aos velhos tempos da banda, e inevitavelmente à sabiamente excluída “Shiny Happy People”. Os que sabem que o clipe de “All The Way To Reno” é assinado por Michael Moore, vão imediatamente fazer associações ao documentário de sua autoria vencedor do Oscar em 2003, “Tiros em Columbine”. Já “I’ll Take the Rain”, “Lotus” e os outros clipes raros incluídos nos “Extra” nos mostram o que se pode e se deve fazer, tanto em termos técnicos (qualidade das imagens, fotografia perfeita), quanto estéticos, quando o assunto é a produção contemporânea de clipes.
O DVD conta ainda com trechos de entrevistas em que os integrantes da banda comentam as músicas ou os clipes, além de versões ao vivo de “Imitation of Life”, “Losing My Religion” e “Man on the Moon”. Todas elas são registros de um concerto em prol da África do Sul, realizado na praça Trafalgar Square, em Londres, em 2001. No caso de “Imitation of Life”, com a particularidade de essa ter sido a primeira em vez que a música foi executada em um show da banda.
Até os fãs mais ardorosos, que são normalmente avessos às coletâneas, têm recomendado The Best of R.E.M – In View – 1988-2003. Trata-se de um belo material de vídeo, com clipes que poderiam facilmente estar incluídos em listas dos melhores de toda a história da música pop. E boa parte da sua importância está ai, até antes do julgamento ou do gosto pessoal pelo som do grupo. Sempre esperto para o que tem a dizer – e também, pelo que se pode conferir, ao que tem a mostrar -, o R.E.M segue como uma das únicas bandas do olimpo pop que transita tacitamente entre o alternativo e o mainstream, e alcança um equilíbrio por vezes complicado de integridade e convívio com pressões de mercado em tempos de crise.
* A coletânea foi lançada também em CD: “In Time – The Best of R.E.M – 1988-2003” traz 18 faixas, inclusive a também inédita Animal, que não está no DVD.
** Texto publicado em março do ano passado no finado Zignow/A Tarde On Line.
Gabriela, para quem o R.E.M faz mais sentido do que nunca agora.

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